Fratura por estresse no pé
Entenda os sintomas, como é feito o diagnóstico e as opções de tratamento para essa condição que afeta principalmente esportistas, tanto atletas profissionais quanto amadores.
Muitas pessoas, ansiosas para começar uma atividade física, muitas vezes negligenciam cuidados essenciais como o preparo muscular apropriado, a atenção à intensidade e progressão dos exercícios, ao peso usado e ao uso de calçados apropriados, entre outros detalhes. Essa negligência pode resultar em fraturas por estresse, que ocorrem frequentemente nos pés e tornozelos devido às altas cargas sustentadas, especialmente durante exercícios de impacto.
Ao contrário do que alguns podem pensar, a fratura por estresse no pé e tornozelo não é resultado de um único impacto no osso, mas sim de sobrecargas repetidas.
A fratura por estresse no pé é caracterizada por um desequilíbrio entre a capacidade de regeneração óssea do organismo e o acúmulo de micro lesões causadas pelo excesso de atividades físicas, como corrida ou outros exercícios de impacto, praticadas por alguém não condicionado para tal intensidade de exercício.
Sempre que realizamos atividades físicas que impactam os ossos, micro lesões são criadas. Na maioria dos casos, o organismo consegue regenerar essas estruturas, fortalecendo-as mais do que antes. Contudo, existem situações em que os danos aos ossos excedem a capacidade de regeneração do corpo, resultando em uma fratura por estresse no pé.
Quem pode ser acometido por uma fratura?
Fraturas por estresse no pé e tornozelo são mais comuns em atletas que submetem essas áreas a esforços intensos devido à intensidade de seus exercícios. No entanto, essas lesões também ocorrem frequentemente em atletas amadores que treinam somente nos finais de semana ou em pessoas que iniciam uma atividade física sem orientação adequada e aumentam de forma abrupta a intensidade ou o volume do treino.
Quais as principais causas da fratura por estresse no pé?
As principais causas da fratura por estresse no pépodem ser divididas de duas maneiras: causas intrínsecas e causas extrínsecas.
Nas chamadas causas intrínsecas, a fratura por estresse no pé tem origem em algum desbalanço da própria pessoa, ou seja, está associada a algum desarranjo metabólico, ao grau de preparo físico, ao alinhamento ósseo dos pés e das pernas, à vascularização ou à estrutura do osso.
As causas extrínsecas são aquelas relacionadas ao regime de treino (quando ocorrem mudanças no treinamento), aos hábitos nutricionais, aos calçados usados durante a prática da atividade física, ao tipo de piso existente no local em que a pessoa treina (pisos muito duros, por exemplo) ou, ainda, quando a pessoa pratica mais exercícios do que está acostumada.
Quais os principais sintomas?
O principal sintoma ou sinal de uma fratura por estresse no pé é o surgimento de dor durante as atividades físicas, que pode piorar progressivamente se a atividade não for interrompida. Geralmente, a pessoa tem dor à palpação do osso fraturado, além de dificuldade para realizar atividades físicas ou mesmo para caminhar. Dependendo da localização, pode-se notar também inchaço da região acometida.
Tipos de fraturas por estresse no pé
As fraturas podem ser divididas em dois tipos de acordo com o osso acometido: de baixo risco e de alto risco. O primeiro tipo diz respeito às fraturas que ocorrem na fíbula distal, no tálus e no calcâneo. Essas fraturas, na grande maioria das vezes, podem ser resolvidas com tratamento conservador.
Fraturas de alto risco, por sua vez, são fraturas que apresentam maior dificuldade para regeneração, necessitando eventualmente de tratamento cirúrgico. Fraturas de alto risco são as que ocorrem na diáfise anterior da tíbia (parte da frente do osso da perna), no navicular, na base do quinto metatarso e no maléolo medial. Essas fraturas podem ser tratadas conservadoramente, mas existe um risco aumentado de elas não se consolidarem. Quando isso acontece, a recomendação é pelo tratamento cirúrgico. Outra indicação para o tratamento cirúrgico são pacientes, principalmente atletas, que necessitam de uma recuperação mais rápida.
Como é feito o diagnóstico da fratura por estresse no pé?
O médico pode solicitar alguns exames para identificar a fratura por estresse no pé. Os principais são:
- Radiografias: geralmente não oferece uma boa visualização da fratura por estresse no pé, principalmente se a lesão estiver em estágios iniciais. Apenas em estágios mais graves é possível visualizar o traço de fratura em radiografias simples;
- Ressonância magnética: é o melhor exame para diagnosticar a fratura por estresse no pé, pois com ele é possível visualizar a chamada fratura oculta, que é aquela que o exame de raio-x não consegue detectar. A ressonância também aponta a presença de edema, ou seja, inflamação no osso, mesmo em estágios muito iniciais da fratura por estresse;
- Cintilografia óssea: apesar de não mostrar em detalhes as características da fratura por estresse no pé, trata-se de um procedimento bastante sensível, ou seja, capaz de detectar fraturas por estresse em seus estágios iniciais. Porém, com a maior facilidade de acesso a ressonância magnética, a cintilografia passou a ser um exame pouco utilizado para esse fim.
Além desses exames de imagem, caso o ortopedista que está tratando a fratura por estresse no pésuspeite que a lesão envolve questões metabólicas, ou quando as fraturas são recorrentes, ele pode solicitar exames que avaliem os níveis de cálcio e vitamina D no sangue, além de exames que observem a função da tireoide e dos rins. A realização de uma densitometria óssea, para avaliar a qualidade óssea, também pode ser útil em alguns casos. Essa investigação complementar é importante em casos suspeitos, pois alterações nesses fatores podem levar a maior fragilidade óssea e consequente aumento no risco de lesões.
Quais são os tratamentos?
Na maioria dos casos, a fratura por estresse no pé pode ser tratada de maneira conservadora, o que pode incluir medidas como:
- Repouso;
- Interrupção da atividade de impacto que causou a lesão;
- Imobilização (em alguns casos), que pode durar de 4 a 8 semanas;
- Exercícios de reabilitação com fortalecimento muscular;
- Uso de anti-inflamatórios ou analgésicos.
Caso a fratura por estresse no pé estiver associada a uma causa metabólica, por exemplo uma patologia na tireoide que está fragilizando os ossos, essa causa também precisa ser investigada e tratada adequadamente.
Em casos em que a fratura por estresse no pé apresenta um atraso de consolidação, há ainda a possibilidade da tentativa da terapia por ondas de choque, na qual são aplicados pulsos de choque no local da fratura para estimular a cicatrização da lesão. Porém a eficácia desse tipo de tratamento ainda não é um consenso absoluto na comunidade científica.
Agende uma consulta com o Dr. Felipe Perez para uma avaliação completa e tratamento da fratura por estresse no pé ou tornozelo.
Fontes
- Welck MJ, Hayes T, Pastides P, Khan W, Rudge B. Stress fractures of the foot and ankle. Injury. 2017 Aug;48(8):1722-1726. doi: 10.1016/j.injury.2015.06.015. Epub 2015 Sep 15. PMID: 26412591
- Lee KT, Park YU, Jegal H, Kim KC, Young KW, Kim JS. Factors associated with recurrent fifth metatarsal stress fracture. Foot Ankle Int. 2013 Dec;34(12):1645-53. doi: 10.1177/1071100713507903. Epub 2013 Nov 11. PMID: 24216284
- Torg JS. Fractures of the base of the fifth metatarsal distal to the tuberosity. Orthopedics. 1990 Jul;13(7):731-7. PMID: 2197611
- Tenforde AS, Sayres LC, Sainani KL, Fredericson M. Evaluating the relationship of calcium and vitamin D in the prevention of stress fracture injuries in the young athlete: a review of the literature. PM R. 2010 Oct;2(10):945-9. doi: 10.1016/j.pmrj.2010.05.006. PMID: 20970764
- Shindle et al. Journal of the American Academy of Orthopaedic Surgeons (Stress Fractures About the Tibia, Foot, and Ankle).